Um bom slogan é apenas um slogan e não enche a barriga de ninguém

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José Carlos Teixeira*

“A fome é a mesma fome

Que vem me desesperar

E a mão é sempre a mesma

Que vive a me explorar”

(Pobreza por pobreza, de Gonzaguinha)

O governo de Jerônimo Rodrigues é de continuidade. Dá seguimento aos duplos mandatos dos também petistas Jaques Wagner e Rui Costa. Mas bastou começar para o próprio governador anunciar que será tudo igual, só que diferente – ou que será diferente, mas no fim ficará tudo igual, o que, no frigir dos ovos, vai dar no mesmo.

Será um governo de inclusão social, cravou o novo governador da Bahia, em seu discurso de posse. É um compromisso, garantiu, aparentemente pouco ligando para o fato de que tal declaração nos leva a inferir que os governos anteriores não o foram. Ou seja, que seus antecessores pouco fizeram para reduzir a desigualdade social que leva à exclusão.

Para Jerônimo, caiu a ficha: o slogan “Governar é cuidar de gente”, criado pelo pessoal do marketing para traduzir o chamado Modelo Bahia de Gestão – pomposa denominação para o jeito de governar dos petistas baianos – vira farofa lançada ao vento quando se constata que 62 por cento dos baianos convivem, em algum grau, com a fome.

Quem atesta é insuspeito Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE: a insegurança alimentar aflige, em algum grau, 62 por cento da população da Bahia, ou seja, pouco mais de 9 milhões de bocas.

No grau máximo da insegurança alimentar, aquele em que a pessoa passa o dia inteiro sem comer ou faz apenas uma refeição por dia, por falta de dinheiro para comprar alimentos, estão 18 por cento da população. Isso mesmo, meu caro leitor, 2,7 milhões de pessoas. É como se toda a população de Salvador não tivesse o que comer ou comesse apenas uma vez por dia.

Mas eis que surge um sinal promissor de mudança no horizonte: nos discursos e nas entrevistas que concedeu após a posse, Jerônimo tem sido enfático: combater a fome é prioridade absoluta do seu governo. Na quarta-feira, ele reuniu o secretariado e deu um prazo até esta sexta para que todos apresentem as propostas de cada secretaria para o programa Bahia Sem Fome. Ele sabe que quem tem fome tem pressa.

É um avanço e tanto. Em menos de uma semana de mandato, o novo governo descobriu que a Bahia tem fome e sinalizou que pretende resolver esse problema com urgência. Tudo indica que, para ele, cuidar das pessoas não pode se resumir a um mero slogan de propaganda.

Rui Costa, atualmente aboletado no cargo de ministro da Casa Civil, encerrou seu mandato de governador dizendo que deixava as contas equilibradas e que o Modelo Bahia de Gestão é um sucesso e motivo de orgulho – mas nada disse, nem lhe foi perguntado, sobre o fantasma da fome que ronda os lares de quase dois terços dos baianos. Vai ver ele acha que uma coisa nada tem a ver com a outra.

Em Brasília, o também iniciante governo do presidente Lula divide-se em um falso dilema: de um lado, o grupo que defende o equilíbrio das contas públicas a qualquer custo; do outro, os que consideram fundamental atender em primeiro lugar as demandas sociais, entre elas o combate à fome.

É melhor Lula se aconselhar com Jerônimo.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

 

 

 

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