Caciques do MDB orientam Lula a baixar a bola e evitar temas polêmicos

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

Há pelo menos duas semanas uma pequena luz amarela vinha piscando no comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É que as pesquisas indicavam uma discreta melhora nas intenções de voto do presidente Jair Bolsonaro, como resultado, entre outros motivos, da retirada do ex-juiz Sérgio Moro da disputa e de algumas iniciativas do governo na área econômica.

O discreto sinal de alerta, no entanto, aumentou de intensidade com a repercussão de uma sequência de falas polêmicas de Lula que, no entendimento dos estrategistas do PT, poderiam lhe causar a perda de apoios em alguns nichos de eleitores e, consequentemente, favorecer Bolsonaro.

Lula abriu a semana passada com uma declaração em defesa do aborto, dizendo tratar-se de um problema de saúde pública. Dessa forma, colocou na pauta de discussão, já na largada da campanha, um tema polêmico e delicado, que desperta paixões no eleitorado religioso, sobretudo entre os evangélicos.

Na sequência, aconselhou trabalhadores e dirigentes sindicais a formarem grupos de 50 pessoas para ir à casa dos deputados e pressioná-los, disse imaginar que Deus é petista, anunciou a retirada de 8 mil militares de cargos comissionados do governo caso seja eleito e criticou duramente a classe média, acusada de ostentar um padrão de vida acima do necessário.

Todas essas declarações acabaram servindo de munição para Bolsonaro, que de imediato reagiu a elas, de viva voz ou por intermédio da bem azeitada máquina com que orienta seus seguidores pelas redes sociais e os municia de argumentos – nem sempre verdadeiros, frise-se –, o que resultou em desgaste para Lula, sobretudo junto ao eleitorado evangélico e conservador.

Sob fogo cerrado, na segunda-feira Lula foi a Brasília. Reuniu-se à tarde com o ex-presidente José Sarney e participou de um jantar na casa do ex-senador Eunício Oliveira com um grupo de senadores do MDB. De todos, gente experiente e pragmática como Renan Calheiros, ouviu o mesmo conselho: evitar os temas polêmicos e fugir de questões da pauta de costumes, que acabam incompatibilizando-o com o eleitorado e beneficiando o adversário.

A recomendação é tocar a campanha em fogo lento, abrindo caminho para uma aproximação com o eleitorado mais à direita, em um movimento que começou com a decisão de escolher o ex-governador Geraldo Alckmin (tucano histórico que se abrigou no PSB), para o posto de candidato a vice-presidente, e prossegue com a busca de uma aproximação com segmentos evangélicos que reagem ao bolsonarismo.

Ou seja, a ordem é baixar a bola e ligar o modo Lulinha Paz e Amor.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

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