Deputados da base de Rui Costa se unem aos bolsonaristas em manobra eleitoreira

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

– Bento que bento é o frade!

– Frade!

– Na boca do forno!
– Forno!
– Fareis tudo o que o mestre mandar?
– Faremos todos!

(Boca de Forno, brincadeira infantil)

 

Digam-me, leitores, o que é capaz de unir os deputados federais baianos de todos os partidos, os da situação e os da oposição, e até mesmo aqueles que costumam ficar em cima do muro, mesmo que isso signifique contrariar desejos e ordens de seus líderes?

Acertou quem respondeu: o desejo de reeleger-se que cada um deles acalenta e para cuja efetivação todos são capazes até mesmo de contrariar as ordens de seus mestres e – o mais grave – apoiar medidas claramente danosas ao país e à população, desde que isso signifique alguns votos a mais na eleição.

O governador Rui Costa, por exemplo, é contra a proposta de redução dos impostos sobre os combustíveis patrocinada pelo governo federal para fazer cair os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Ele acha que a medida quebrará os estados e se trata de uma artimanha com fins eleitoreiros. Estima que, se aprovada a proposta, a Bahia terá de abrir mão de R$ 5 bilhões, dinheiro que fará falta na hora de pagar os gastos com pessoal, saúde e educação.

Nem por isso, no entanto, o governador conseguiu mudar um único voto dos deputados federais que integram sua base, todos apoiadores da iniciativa bolsonarista – afinal, estamos a menos de quatro meses da eleição e nenhum deles quer se posicionar contra uma medida que, segundo apregoa o governo federal, fará cair os preços dos combustíveis.

Até mesmo os sete deputados da bancada petista que, em tese, têm o governador como principal liderança no Estado, resolveram descumprir o que o mestre mandou, se é que mandou mesmo, e alinharam-se com a proposta do presidente Jair Bolsonaro – afinal, quem tem eleição a disputar tem medo.

Alguns dos deputados petistas, é verdade, chegaram a usar a tribuna da Câmara para condenar a proposta governista de redução dos impostos, alegando o baque que a medida provocará na arrecadação do ICMS – na Bahia, a alíquota do imposto sobre os combustíveis é das mais altas do país.

Na hora de votar, porém, os petistas baianos baixaram o tom e juntaram-se aos bolsonaristas na aprovação da proposta – mesmo sabendo que se trata de uma medida artificial que vai apenas empurrar a inflação para o próximo ano.

A medida é artificial porque, como todos sabem, o que está provocando o aumento constante no preço dos combustíveis é a majoração do barril de petróleo e a política de preços da Petrobras. Não os impostos, pois o valor destes só aumenta se os preços dos produtos subirem – e caem se o preço dos combustíveis cair.

Além do mais, zerar o imposto do diesel por seis meses é um mero paliativo. Quando chegar em 2023, passada a eleição, a inflação reprimida artificialmente vai explodir.

Ou seja, trata-se de um verdadeiro estelionato eleitoral. Baixar artificialmente o preço dos combustíveis às vésperas de eleição, mesmo que eles voltem mais caros após o pleito. E nisso, deputados petistas e bolsonaristas estão juntos – afinal, ninguém quer perder eleição.

Na antiga brincadeira infantil chamada boca de forno,– hoje um pouco esquecida, obscurecida pelo avanço tecnológico que criou os jogos eletrônicos, os videogames e os jogos online – todos os participantes se comprometiam a seguir as ordens de um mestre e quem não o fizesse era castigado.

O objetivo da brincadeira era passar às crianças noções de autoridade, por meio do conflito de mandos e desmandos. Na real, o mestre Rui Costa proferiu palavras ao vento. Ninguém da base governista atendeu. Nem mesmo seus pares do PT. Vai ter castigo? Duvideodó!!!

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

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