Lula não vai ao desfile e PT promove Dois de Julho Light na Arena Fonte Nova

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

“Era no Dois de Julho. A pugna imensa

Travara-se nos cerros da Bahia…”

(Ode ao Dois de Julho, Castro Alves)

 

Não. Não acontecerá. Para frustração de muitos e alegria de outros tantos, não veremos, no cortejo do Dois de Julho, candidatos a presidente da República com seus respectivos candidatos a governador do lado e à frente de um batalhão de seguidores, desfilando garbosamente pelas estreitas ruas do Centro Histórico de Salvador, repetindo o trajeto feito há exatos 199 anos quando o Exército Libertador entrou na capital baiana, depois que as tropas portuguesas, bateram em retirada, derrotadas.

O desfile do Dois de Julho, nos anos de eleição, transforma-se numa grande passarela para os políticos e um indicador precioso da aceitação de cada um deles pelo eleitorado – medida pela quantidade de aplausos ou de vaias que recebem ao longo do trajeto, ou mesmo pela indiferença popular à sua passagem.

É uma tradição que poucos ousam ignorar. Melhor pesquisa não há, dizem os mais experientes nessas coisas de vaias e aplausos. Tanto que alguns chegam ao ponto – condenável, diga-se – de espalhar adeptos ao longo do trajeto, devidamente bem pagos, é claro, para ovacioná-los e vaiar os adversários.

O comando local do PT viu no desfile deste ano uma preciosa oportunidade para buscar a federalização da disputa eleitoral pelo governo da Bahia, arma ardentemente desejada para alavancar seu candidato a governador, que ainda segue patinando nas pesquisas até agora divulgadas.

Para tanto, mobilizou sua estrela maior: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detentor de altos índices de intenção de voto em Salvador e na Bahia como um todo. A ideia era mostrar o candidato a governador ao lado de Lula no trajeto da Lapinha até o Largo do Pelourinho, para deixar claro que os dois – juntamente com o governador Rui Costa e os senadores Jaques Wagner e Otto Alencar – jogam no mesmo time.

A lógica seria sinalizar que quem não está nesse time é porque joga na equipe adversária. Ou seja, quem não está com Lula, está contra Lula. Ou melhor, está com o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição com elevada taxa de rejeição entre os baianos. Uma manobra com duplo objetivo: colar Jerônimo em Lula e empurrar seu principal adversário, o ex-prefeito ACM Neto, para o colo de Bolsonaro – mesmo considerando que o candidato bolsonarista declarado até agora seja o deputado João Roma.

Não deu certo. Preocupados com a segurança de Lula, a coordenação nacional da campanha do ex-presidente cancelou a presença dele no desfile pelas apertadas ruas e ladeiras percorridas pelo cortejo. Dizem que o governador Rui Costa até insistiu, argumentando que a polícia baiana teria plenas condições de garantir a segurança de Lula, mas ninguém levou a sério.

Para Lula não perder a viagem, os dirigentes locais do PT organizaram uma espécie de “Dois de Julho Light”, à semelhança do “Bonfim Light”, aquelas festas para jovens endinheirados que não querem se misturar com o povo na Lavagem do Bonfim: um evento a portas fechadas, só para militantes, na Arena Fonte Nova.

Bolsonaro, por sua vez, garantiu sua presença em Salvador, mas não vai botar os pés no desfile. No mesmo horário, fará uma motociata, levando o deputado João Roma na garupa da moto, como fez no mês passado na cidade de Luís Eduardo Magalhães, pouco antes da abertura da Bahia Farm Show.

Assim, os únicos presidenciáveis com presença confirmada no desfile do Dois de Julho, até agora, são Ciro Gomes, do PDT, e Simone Tebet, do MDB, cujos partidos não terão candidato próprio ao governo da Bahia.

Com isso, a pugna nas enladeiradas e apertadas ruas percorridas pelo cortejo será travada sem padrinhos pelo governista Jerônimo Rodrigues e o oposicionista ACM Neto, disputando, passo a passo, pedidos de selfies, beijos, abraços, aplausos e vaias.

Nas calçadas, nas janelas das casas, em meio ao cortejo, os acompanhará a pergunta feita por Castro Alves, na Ode ao Dois de Julho:

“Qual dos gigantes morto rolará?! …”

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

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